A frase "UMA COISA..." é encontrada dezesseis vezes na Escritura. Duas das ocorrências relacionadas com uma coisa são aquelas em que Cristo exigia dos rabinos, como condição de responder-lhes as perguntas, por exemplo: "Se o batismo de João era do céu" (Mateus 21:24,25; Lucas 20:3-4). Se eles não estavam sendo honestos nesses itens básicos, Jesus estaria desperdiçando o Seu tempo, tentando arrazoar com eles. Ele sabia que os rabinos não eram sinceros, mas estavam apenas tentando encontrar alguma coisa para acusá-Lo.
Nós pouparíamos muito tempo e esforço, se seguíssemos o exemplo de Cristo. Pedro nos exorta na 1 Pedro 3:15: "Antes, santificai ao SENHOR Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós..." .
Por outro lado, Paulo nos admoesta: "E rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade..." (2 Timóteo 2:23-25). Então devemos distinguir entre os que têm fome genuína da Verdade e os que apenas desejam argumentar e fazer-nos perder tempo.
Existe ainda uma coisa que todo cristão, não importa quão novo seja na fé, deve saber e sobre o que deve dar testemunho. O cego de nascença, a quem Cristo restituiu a visão, disse simplesmente aos rabinos críticos: "Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo" (João 9:25). Essa cura física foi seguida pela cura espiritual das trevas do pecado, quando Cristo a ele se revelou (João 9:35-39).
Quando testifica sobre uma coisa, o novo crente cresce na apreciação de Cristo e no que Ele tem feito. A apreciação exige adoração e o Senhor responde, revelando-Se em medida cada vez maior, numa comunhão de amor, que transborda em frutífero testemunho. Infelizmente, alguns crentes ainda são imaturos na fé, mesmo depois de muitos anos de conversão a Cristo. Aquela sua primeira fé simples escassamente cresceu e sua apreciação por Cristo é tão ínfima que pouco têm dEle para compartilhar com os outros. Para esses crentes o dar um testemunho é muito mais difícil do que para os que têm um coração repleto do amor de Cristo.
As curas físicas e temporais que Cristo realizou falam das que são espirituais, "porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas" (2 Coríntios 4:18). Quando comissionou Paulo para levar a visão e a vida espiritual através do Evangelho, Cristo o enviou tanto aos judeus como aos gentios: "Para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são santificados pela fé em mim" (Atos 26:18). Todo cristão possui a mesma elevada vocação, embora sejam poucos os que a cumprem.
O que mais falta em nossas vidas não seria uma apreciação e um amor mais profundos por Cristo, expressos em contínua adoração a Ele, em nosso coração? Podemos estar ocupados servindo aos outros em nome de Cristo, a ponto de não termos mais tempo para a comunhão e adoração a Ele. Esse foi o problema de Marta: "E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa; e tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada" (Lucas 10:38-42). Seu dúvida, Cristo coloca a adoração antes do serviço.
Certamente, o que Cristo diz com uma coisa é necessária ainda hoje deve ser de capital importância para cada um de nós. Ao contrário de uma coisa que Pedro diz, a qual nos parece enigmática: "Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia" (2 Pedro 3:8). Por que Pedro, inspirado pelo Espírito Santo, dá tamanha importância a esta especial informação?
Alguns têm tentado ligar essa exortação petrina a outra profecia, ainda mais misteriosa, para Israel: "Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele" (Oséias 6:2). Equacionando um dia com mil anos e contando a partir da rejeição de Israel e da crucificação de Cristo, alguns têm sugerido que a apostasia à fé cristã e o Reinado Milenar de Cristo ocorreria em 2032 (e o Arrebatamento em 2025). Pode até ser, mas não existe prova alguma. Tal declaração parece mais o estabelecimento de uma data, contra o que fomos admoestados "Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite" (Salmos 90:4). Esta declaração parece negar a interpretação de Oséias 6:2.
Em vez disso, ela diz algo de que podemos estar absolutamente certos e que concorda com a declaração de Pedro. Certamente uma coisa que toda pessoa que conhece o Deus verdadeiro deve verificar é o fato de que o Criador existe fora do tempo: "Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas, mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me entender e me conhecer, que eu sou o SENHOR, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR" (Jeremias 9:23-24).
O que um dia é para nós, ontem, quando é passado, e amanhã, quando é futuro – é o mesmo para Deus. O tempo faz parte do universo físico, enquanto Deus, que criou tudo do nada, não faz parte de Sua criação, nem do universo (conforme ensinam os místicos orientais e a maioria dos sistemas ocultistas), não sendo este, portanto, uma extensão ou parte de Deus. O tempo não conta na eternidade. Ele não existia antes "do princípio" (Gênesis 1:1) e não mais existirá nos novos céus e na nova terra. Pedro está dizendo que entender essa uma coisa é fundamental à nossa fé. Por que? Porque ela nos diz que o pré-conhecimento de Deus deixa o homem livre para fazer suas genuínas escolhas. O fato de que Deus tem conhecido desde a eternidade o que cada pessoa vinda à existência iria fazer, não é, de modo algum, a causa dessas coisas. Sugerir (como alguns têm feito), que o pré-conhecimento e a predestinação/eleição são a mesma coisa (Romanos 8:29 e 1 Pedro 1:2), isto é, que Deus sabe o que vai acontecer no futuro porque Ele assim o quis, é negar a Sua Onisciência.
Josué apresenta uma coisa que ainda é instrutiva para nós, atualmente. Dentre suas palavras dirigidas a Israel, a recordação é confortadora: "E eis que vou hoje pelo caminho de toda a terra; e vós bem sabeis, com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma, que nem uma só palavra falhou de todas as boas coisas que falou de vós o SENHOR vosso Deus; todas vos sobrevieram, nenhuma delas falhou" (Josué 23:14) e Salomão na 1Reis 8:56: "Bendito seja o SENHOR, que deu repouso ao seu povo Israel, segundo tudo o que disse; nem uma só palavra caiu de todas as suas boas palavras que falou pelo ministério de Moisés, seu servo".
Neste tempo de sedução da Psicologia, quando tudo deve ser "positivo" e tudo que for "negativo" deve ser descartado, deveríamos, mais do que nunca, nos lembrar de que o mesmo Deus que nos traz as prometidas bênçãos deve ser tão justo como fiel à Sua Palavra, quando traz o julgamento contra o pecado, conforme Ele prometeu. Este fato é visto nas duas últimas cenas de Cristo na Escritura: primeiro, sobre "um cavalo branco" e, finalmente no "grande trono branco". Cavalgando o cavalo branco Ele confronta, julga e destrói o Anticristo e os exércitos do mundo, no Armagedom. No grande trono branco, Ele julga os perdidos que rejeitaram o Seu sacrifício na cruz para a remissão dos seus pecados, quando serão condenados pelas suas próprias palavras e obras: "E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles" (Apocalipse 19:11)... "E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras. E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo" (Apocalipse 20: 11-15).
Todos os que vão comparecer diante do grande trono branco já estarão mortos e irão para o inferno. Então não se trata aqui de salvação, mas da condenação, que terão de sofrer eternamente. Do julgamento final serão inescapáveis todos os que não tiveram Cristo como Salvador e Senhor, pois ele provém da justiça e integridade de Deus, conforme a Sua Palavra imutável: "Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia" (João 12:48).
Davi, o pastor e doce salmista de Israel, também profeta e rei, é um dos tipos mais clássicos de Cristo em toda a Escritura. Ele teve muita coisa que o recomendasse. Até mesmo na juventude, quando derrotou um leão e um urso, tendo mais tarde confrontado o gigante Golias, diante do qual os exércitos de Israel se acovardaram (1 Samuel 17:32-36), sua grande coragem estava alicerçada numa inabalável fé no Deus de Israel: "O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O SENHOR é a força da minha vida; de quem me recearei?" (Salmos 27:1). Ele era um homem de grande sabedoria e compaixão e sua capacidade de liderança foi completada com humildade. Mesmo tendo Davi pecado gravemente, Deus o chamou "um homem conforme [ou segundo) o meu coração" (Atos 13:22; 1 Samuel 13:14). Entendemos o porquê disso, quando lemos os seus salmos. A paixão de Davi pelo Deus de Israel foi uma coisa, pela qual, séculos mais tarde, Maria de Betânia iria também ansiar. (João 11:1; Lucas 10:42). "Uma coisa pedi ao SENHOR, e a buscarei: que possa morar na casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do SENHOR, e inquirir no seu templo" (Salmos 27:4).
A "formosura do Senhor"! Que intimidade Davi deve ter tido com o Criador infinito para falar nestes termos! Certamente ele estava assentado aos pés do Deus de Israel, o Senhor dos Exércitos, do mesmo modo como, certamente, uma simples adoradora chamada Maria iria se assentar, séculos depois, aos pés de Jesus, para escutar a Sua Palavra. Façamos o mesmo!!!
Quando foi que você e eu exultamos pela última vez diante da formosura do Senhor nosso Deus, o Criador da beleza, o qual nos deu a capacidade de admirá-la? E como "Deus é Espírito" (João 4:24), Davi estava falando de beleza espiritual, que é muito mais maravilhosa do que tudo que o olho humano pode ver, com os olhos da fé: "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam (1 Coríntios 2:9) e "Os teus olhos verão o rei na sua formosura" (Isaías 33:17-a).
A paixão de Paulo era a mesma; nada poderia comparar-se ao conhecimento de Cristo e nada deveria atrapalhar o alcance do seu objetivo: "E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo..." (Filipenses 3:8). O clamor do seu coração era conhecê-Lo! (versos 10). E Paulo nos conduz a um pouco mais longe, em Filipenses 3:13-14: "Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus".
Conforme Pedro explica, Deus "nos chamou à Sua eterna glória", à completa restauração em Cristo de todos os perdidos em Adão - e muito mais - o grande desejo de Pedro era obter a totalidade de tudo que Deus desejava para ele. Esse desejo refletiu a paixão de Davi, de "morar na casa do SENHOR todos os dias", nele meditando, a fim de se tornar semelhante a Ele: "Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor" (2 Coríntios 3:18). Até que, finalmente, quando O encontrassem na Glória, ele e Paulo pudessem dizer: "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro" (1 João 3:2-3).
Existe uma coisa que foi literalmente aplicada a um homem em particular, mas que nos pode ser aplicada apenas espiritualmente, hoje em dia. Ao jovem rico, que desejava seguir a Cristo, o Senhor disse: "Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me" (Marcos 10:21; Lucas 18:22).
Claro que o assunto não dizia respeito à salvação daquele jovem, mas ao serviço a Cristo. O Evangelho não exige que vendamos tudo quanto temos e muito menos que demos tudo aos pobres, a fim de sermos salvos. As obras nada têm a ver com a salvação: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8-9). Também Cristo não estava pronunciando uma regra a ser seguida por todos. Ele estava apenas expondo o coração daquele jovem, mas, infelizmente, o seu amor pelas riquezas o fez desistir de seguir o Senhor e, assim, ele perdeu o galardão celestial que poderia vir a receber.
O que diria hoje o Senhor a cada um de nós? Haverá uma coisa atrapalhando o seu caminho de legítima adoração e completo serviço a Ele? Uma coisa, talvez tão grande a ponto de evitar que Cristo ocupe o primeiro lugar? (Colossenses 1:18).
Será que Ele está nos dizendo em Sua Palavra: "Uma coisa te falta..." Talvez não estejamos servindo-O como deveríamos, nem estejamos ocupando tanto tempo quanto deveríamos no estudo pessoal da Bíblia e na oração. Pode haver muitas outras maneiras nas quais tenhamos falhado. Mas qual seria aquela que o Senhor nos apontaria como "uma coisa", qual seria a chave de todo o mais?
Que possamos dizer como Davi, Maria [de Betânia] e Paulo: Eu só desejo uma coisa, Senhor! É amar-Te mais, para Te conhecer melhor e ser capaz de apresentar-Te e apresentar a Tua Verdade claramente, de ser tudo e somente o que Tu planejaste para mim, desde toda a eternidade!
Poderia um verdadeiro cristão desejar menos que isso?
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