Para muitas pessoas jovens, a nossa época é vista como um período de decepções (e como têm razão!). A confiança nas instituições públicas e nos políticos, sofreu um processo de desgaste completo. Alguns expressam ira e amargura, enquanto outros manifestam uma atitude de pesar de vido à perda de integridade por parte das instituições de nosso país. Eles demonstram ressentimento contra o governo, hostilidades pelas empresas comerciais e industriais, indiferença às instituições educacionais e uma desconfiança geral do "sistema". Também a igreja organizada não escapou a este espírito de desilusão. Em alguns aspectos o cristianismo com tantas denominações estranhas tem sido um foco de críticas. A verdade é que as pessoas esperam demasiado da igreja e quando ela as decepciona, a dor pode ser grande. No contexto desse tipo de desilusão é que se ouve no geral a queixa: "A igreja está cheia de hipócritas".
Nós vivemos numa cultura em rápida transformação. Inúmeros valores tradicionais foram abandonados como supérfluos. Um valor todavia continua sendo considerado como importante - o valor da honestidade. A fraude, conspiração, engano, dissimulação, corrupção, permanecem palavras "feias" em nosso vocabulário.
Muito embora a honestidade continue sendo considerada uma virtude, é para nós penoso e às vezes quase impossível para admitir isso quando transigimos. A honestidade é vista de um lado como uma virtude redentora que "faz expiação" de uma multidão de pecados. Ouvimos as pessoas nos dizerem: "Talvez eu beba muito, mas pelo menos admito isso", ou, "Eu talvez transe com muitas garotas por aí, mas não sou hipócrita, falo a verdade a quem quiser ouvir".
Mas ninguém tem a coragem de dizer: "Eu sei que sou um mentiroso, mas pelo menos admito o fato". É difícil para nós dizer: "Menti", é mais fácil explicar: "Enganei-me". Quando tratamos do problema da hipocrisia enfrentamos o da mentira. O comportamento desonesto que envolve fraude e engano são os principais ingredientes da hipocrisia. O hipócrita é aquele que engana deliberadamente, pretendendo ser mais justo do que realmente é. O hipócrita é um ator moral. Ele vive uma mentira. Afirma estar livre das falhas que pratica ocultamente. A sua vida é uma farsa.
O que ocorre é que as pessoas observam (e como!) os membros da igreja pecarem. Elas raciocinam consigo mesmas: "Essa pessoa se diz um crente em Cristo. Mas os crentes não devem pecar. Essa pessoa está pecando, portanto, é uma hipócrita". A suposição implícita é que o crente em Jesus é alguém que alega não cometer pecado. Mas na realidade o caso é o inverso. Para o cristão ser cristão, ele deve primeiro ser pecador. Ser pecador é um pre-requisito para ser um membro da igreja. A igreja cristã é uma das poucas organizações no mundo que exige um reconhecimento público como condição de entrada na mesma. Num certo sentido a igreja tem menos hipócritas do que qualquer outra instituição porque, por definição, ela é um refúgio para os pecadores. Se a igreja afirmasse ser uma entidade composta de pessoas perfeitas, sua reivindicação seria então hipócrita. Mas ela não faz isso. Não existe calúnia na acusação de que a igreja está cheia de pecadores. Tal afirmativa iria apenas elogiar a igreja por cumprir sua tarefa divinamente determinada.
Outra razão para as pessoas se inclinarem a crer que a igreja tem muitos hipócritas é porque existem, de fato, hipócritas na mesma. Os cristãos cometem toda sorte de pecados, inclusive o da hipocrisia. Embora a igreja possa não estar cheia de hipócritas, de modo algum está vazia deles. Os cristãos não estão acima da tendência de parecer mais justos do que na verdade são. Nem todos os que estão na igreja e professam ser crentes sinceros também o são. Existem várias formas de hipocrisia e a maioria delas se manifesta até certo ponto na igreja. Como o próprio Cristo previu, a igreja contém sempre uma mistura de "joio e trigo", de crentes sinceros e outros falsos (Mat. 13.24-30).
Os clérigos são no geral considerados como os maiores hipócritas dentre todos. "Pratique o que prega", tornou-se a crítica comum aplicada ao clero. Os ministros não ficam isentos da hipocrisia ao serem ordenados. Talvez o clero, mais do que qualquer outro grupo, se incline para este pecado especial. Em primeiro lugar, os clérigos ficam sobrecarregados com as altas expectativas de suas congregações e com os moldes fixos e clássicos associados ao seu comportamento. A tentação de fingir piedade é muito grande.
São muitos os motivos que levam os homens ao ministério. Alguns deles são nobres e outros nem tão nobres assim. A pessoa pode buscar o ministério baseada numa fé profunda e desejo sincero de servir a Deus. Algumas delas são, porém, motivadas por um forte sentido de incredulidade. Como pode ser isso? Certas pessoas se preocupam tanto sobre religião e questões teológicas que acabam se envolvendo em debates religiosos todos os dias. Nos campus universitários esses tipos proliferam. Suas discussões a respeito de religião os leva a estudar cada vez mais, mesmo que seja só com a idéia de refutá-la. Um grande número delas acaba num seminário e empunha a vida inteira a bandeira do ceticismo dentro da igreja. Trata-se de uma síndrome do tipo "se não puder vencê-los junte-se a eles".
Todos os ministros do evangelho são hipócritas? Com certeza não existe um ministro sequer no mundo que pratique perfeitamente o que prega. Se o pastor só pudesse fazer pregações sobre o que conseguiu dominar pessoalmente, teria bem pouco sobre o que falar. Essa é uma das dimensões mais difíceis do ministério. Devemos nos lembrar que o sermão deve ser dirigido ao ministros tanto quanto à congregação. De fato, muitos desses sermões nascem dos conflitos pessoais do pregador. Ele tem de pregar sobre a santidade de Deus e a perfeita obediência muito antes de ter conseguido obedecer perfeitamente. Pregar num nível superior ao que você se encontra não é hipocrisia. Alegar um nível superior de performance, ainda não atingido por você, isso é ser hipócrita.
Por que nosso Senhor Jesus Cristo toma uma posição tão severa com respeito à hipocrisia? No registro de seus encontros com pecadores, nós O vemos falando com gentileza e bondade. Todavia, quando confronta os hipócritas, o tom de seus comentários se mostra áspero. Talvez isso tenha algo a ver com o enorme prejuízo causado pela hipocrisia. Quando o fingimento do hipócrita é exposto, muitos ficam magoados, decepcionados, desiludidos. O hipócrita pode causar não só a perda de sua própria credibilidade, mas também da de seus companheiros e de tudo que representam. Jesus advertiu a respeito de "desviar os pequeninos". Paulo falou de pessoas blasfemando por causa da má conduta da igreja.
A fim de ilustrar os efeitos duradouros de um ato de hipocrisia vamos examinar um episódio ocorrido na Alemanha. Um garoto judeu tinha imensa admiração pelo pai. A vida da família tinha como centro os atos de piedade e dedicação prescritos pela religião deles. O pai mostrava-se zeloso em frequentar os cultos e aprender os ensinamentos, exigindo o mesmo dos filhos. Quando o menino entrou no período da adolescência a família foi obrigada a mudar-se para outra cidade da Alemanha. No novo local não havia sinagoga e todos os homens mais importantes pertenciam à igreja luterana. Certo dia o pai anunciou repentinamente à família que todos iriam abandonar sua tradição judaica e juntar-se à igreja luterana. Quando a família espantada perguntou-lhe a razão, ele explicou que isso era necessário para promover os seus negócios. O jovenzinho ficou desnorteado e confuso. Sua decepção profunda logo deu lugar à ira e a uma amargura intensa que o acompanhou por toda a vida. Esse rapaz deixou a Alemanha e foi estudar na Inglaterra. Passou a frequentar diariamente o Museu Britânico, formulando idéias e compondo um livro. Nesse livro ele introduziu um ponto de vista novo sobre a vida e o mundo, concebendo um movimento destinado a mudar o curso da humanidade. Em sua obra ele descreveu a religião como sendo um "ópio para as massas", a qual podia ser explicada totalmente em termos de economia. Hoje mais de dois bilhões de pessoas vivem sob o sistema inventado por esse homem amargo - Karl Marx. A influência da hipocrisia do pai ainda se faz sentir agudamente em toda parte.
Ora, amigo, a igreja não é o único lugar em que os efeitos da hipocrisia causam problemas. A fraude ou a mentira de qualquer espécie são formas de hipocrisia. Quando você coloca uma quantia em excesso na sua relação de despesas está praticando a hipocrisia. Quando modifica os números no formulário do imposto de renda, está praticando hipocrisia. Quando "cola" numa prova está enganando ao professor quantos aos seus conhecimentos.
Existe um sentido muito real em que todos somos hipócritas até certo ponto. Quando buscamos apresentar uma imagem pública de nossa pessoa melhor do que realmente somos, bancamos o hipócrita.
A questão máxima do cristianismo é a pessoa e obra de Jesus Cristo. A pergunta real que devemos fazer é esta: "Jesus era hipócrita?". Se Ele era hipócrita não há portanto qualquer razão para envolver-se com a sua igreja. Mas se Jesus não era hipócrita, sendo tudo que afirmava ser, devemos então dedicar-nos à sua igreja. O propósito da Igreja não é dar louvores e honra a seus membros. A Igreja existe para honrar e obedecer a Cristo.
Concluindo, o cristianismo apresenta um JESUS CRISTO perfeito para homens imperfeitos. Não há engano em JESUS. NEle não há desonestidade nem fraude. Ele ama a verdade; Ele pratica a verdade; Ele é a verdade.
Hipocrisia é coisa de ser humano.
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